O DIA DO ENGARRAFAMENTO, parte 3
Porto Príncipe, Haiti, 28 de agosto de 2004.
Fomos até quase sair da cidade. Andamos tanto naquela direção que não sabíamos mais onde estávamos. O senso de direção de todos, naquela viatura, tinha ido pro “barro”. Estávamos perdidos, e agora? Resolvemos parar o caminhão e perguntar para alguém como deveríamos fazer para voltar para a Base. Paramos num lugar escuro e com pouco movimento. Chamei um senhor que me parecia ser confiável. Demorou uns 3 minutos para ele entender que eu estava chamando ele e, na esperança de que ele, ao menos, falasse inglês, arrisquei:Porto Príncipe, Haiti, 28 de agosto de 2004.
- Do you speak english?
- No. French and Creole.
- Agora lascou tudo! Tentei mais algumas palavras em inglês com ele, mas ele não entendia nada e ainda disse assim, em creole: - Vocês são brasileiros?
- Eu sou fanático pelo Brasil! - Ok, amigo, obrigado! Foi cômica aquela cena. Nós tentando nos achar e o senhor dizendo que era fanático pelo Brasil, valeu, pelo menos, para rirmos um pouco. Seguimos a viagem em direção desconhecida. Já fazia, pelo menos, 2 horas que nós tínhamos saído do local do jogo e não sabíamos nem aproximadamente que horas chegaríamos a base novamente. A viagem seguiu por uma rodovia que parecia nos levar para fora da cidade, andamos muito, poucos carros apareciam nela e os que apareciam andavam na nossa contra-mão. Comecei a ficar preocupado. Sugeri parar em algum posto e perguntar onde estávamos, mas não aparecia nenhum posto ao longo da rodovia. Seguimos andando por mais 30 minutos até que avistamos luzes e algumas pessoas, a chuva tinha diminuído. Paramos num posto e, por sorte, tinha uma viatura da Polícia Nacional Haitiana parada lá também. Muitas pessoas se abrigavam em baixo da cobertura do posto. Encostamos o caminhão e eu chamei um dos policiais e perguntei, se ele falava inglês, ele respondeu que falava um pouco. Perguntei como deveríamos fazer para voltar para a base, dando como referência a universidade, ele fez uma cara de que estávamos muito longe e respondeu perguntando se queríamos que eles nos levasse até a base, foi a nossa salvação. Aceitamos a gentileza e seguimos atrás dos policiais. A viatura deles seguiu por aquela estrada esburacada com a sirene e o “giroflex” ligados, nós tínhamos alguma dificuldade para segui-los porque estávamos de caminhão e eles de camionete. Eles no levaram por algumas estradas conhecidas, porém, quando achávamos que estávamos localizados, nos perdíamos de novo e continuávamos a seguir os policiais. Ocorreu-me um problema enquanto andávamos: Fatalmente iríamos cair no mesmo engarrafamento que fez com que déssemos toda essa volta. E não deu outra. Avistamos o engarrafamento há uns 100 metros de distância e começamos a rir. O policial que nos levou até o local estacionou a sua viatura e falou assim: - Bom, daqui vocês sabem seguir sozinhos, né?! - Saber, nós sabemos, mas era exatamente deste engarrafamento que queríamos escapar – Respondi. Tudo bem, o tumulto já estava bem menor. Desci do caminhão e segui a pé na frente, balizando o caminho para a vinda do nosso caminhão. Após alguns gritos e gestos conseguimos, finalmente, nos livrar daquele entrevero. Por volta das 21h, chegamos na Base Alfa, detalhe, saímos do local do jogo por volta das 17h30min, mais de três horas de correria para fugir do congestionamento e chegar em casa, mas enfim, isto é o Haiti.
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A parte 1 desta história foi publicada, neste blog, no dia 5 de março e a parte 2 no dia 24 de março.
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