Nem bem amanheceu o dia e o forte estrondo de um escapamento veicular, vindo da rua, o acordou abruptamente. A escura manhã de inverno, fria por si só, já dificultava o que já era um grande desafio: levantar da cama. Olhos semiabertos, sentado na cama, buscou seu casaco encostado na cadeira da escrivaninha. Mão no interruptor, luz acesa, caminhou até o banheiro.
Já não era daquele momento que sua vida lhe desagradava. Filho único de uma família de intelectuais, seu desempenho nos cadernos em nada lhe orgulhava. Formou-se sem muitas honras na Universidade. Ciência da Computação era um desejo infantil alcançado a muito custo.
A vida abastada que sempre sonhou parecia dar um passo à frente toda vez que ele tentava se aproximar. Dentes escovados, barbear-se naquela água gelada era uma tortura. Vestiu-se de maneira convencional e passou os olhos no relógio do despertador: 7:03 AM. Rumou à cozinha. Um café quente com o tradicional sanduíche fazia-se necessário todos os dias.
- "Acabou o presunto. Sanduíche só com queijo é dose. Vou tomar café na rua", pensou consigo.
Passou a mão nas chaves e rumou à porta. Trancou-a com uma volta e passou a caminhar em direção ao ponto do ônibus. A rua vazia, as casas escuras, assim como aquela manhã, não eram a companhia mais agradável. Por algum momento pensou que aquela estava vazia demais para uma terça-feira. Apressou-se para tomar o ônibus das 7:20 AM.Sentou-se ao banco e conferiu a hora no relógio de pulso: 7:16 AM. O silêncio, de repente, foi quebrado com o ringar do celular:
- "Alô?"
- "Dênis?" - perguntou a voz feminina do outro lado da linha.
- "Sim! Pois não?"
- "A Dra Fernanda pediu para ligar para você. O servidor da empresa foi desligado de madrugada. Tentamos contato com o Seu Jerônimo, mas não conseguimos localizá-lo. Você pode passar aqui para ver o que aconteceu?"
- "Errr ... tudo bem!" - respondeu receoso.
Sabendo como Seu Jerônimo, seu chefe, era rígido com o horário, resolveu lhe consultar antes de ir atender o chamado do cliente. Três tentativas e nada. Aquela altura, o ônibus já deveria ter vindo, mas nem sinal. Com um olhar panorâmico, percebeu que nem o ônibus, nem os carros, nem ninguém estava na rua. Teve um misto de receio com curiosidade, até que um novo toque no seu celular lhe despertasse.
- "Dênis, você tem a chave da loja?" - questionou-lhe Renata, sua colega de longa data.
- "Tenho sim."
- "Então corre pra cá que eu tô trancada pra fora. O Seu Jerônimo ainda não chegou. Não sei o que aconteceu. Tô tentando ligar pra ele, mas não me atende."
- "Pois é, eu também tentei e não consegui. A Dra Fernanda me ligou para ir ver o servidor da empresa dela, mas vou passar aí para te entregar a chave antes de ir pra lá, isso se o ônibus vier me buscar."
- "Ônibus? Tá brincando?! Não tem ônibus hoje. Eles pararam de rodar de madrugada e ninguém sabe o que aconteceu. Acho melhor achar outra forma de vir pra cá."
Sem ônibus, naquele frio, o jeito era rumar a pé e encarar os 6 Km de distância. Quem sabe aparece um táxi no caminho.
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E a continuação?
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